A Falência das Tradições Juninas

1

 

 

A morte do festejo de São João é uma realidade triste e alarmante. Ao observar as jovens passando, todas uniformizadas, é como se fossem réplicas umas das outras. As mesmas botas, as mesmas saias e a maquiagem idêntica criam uma sensação de homogeneidade que se distancia da riqueza cultural que essas festas deveriam representar. Essa uniformidade não apenas apaga a individualidade, mas também a essência vibrante das tradições que moldaram nossa identidade.

 

Em Euclides da Cunha, no sertão baiano, a 320 km da capital, milhares de pessoas costumavam se reunir para celebrar o verdadeiro São João. Antigamente, as festas eram realizadas nas casas das famílias, onde parentes e amigos se reuniam para confraternizar e celebrar a cultura local. Essa tradição, que promovia laços afetivos e a troca de experiências, foi perdida. Hoje, a cidade se transforma em um verdadeiro caos, com trânsito mal organizado e um clima de excessos, onde a bebedeira predomina. O que deveria ser uma festa de alegria e unidade se transforma em um carnaval fora de época, aproveitado por políticos que, em vez de promover a cultura, usam o evento como um palanque para suas próprias agendas.

Nesta madrugada, senti os efeitos da ignorância e do mau gosto, que desrespeitam não apenas o ouvido humano, mas também o bem-estar dos animais que compartilham nosso espaço. O sofrimento dos nossos gatos, inquietos e assustados, reflete o descontentamento que muitos de nós sentimos. É angustiante perceber que as festividades, que deveriam ser momentos de celebração, se tornaram um pesadelo para aqueles que buscam paz e harmonia.

 

As músicas que ecoam durante as festividades lembram um passado sombrio, trazendo à mente um antro que atormentou a vida dos moradores na Rua do Rico. O som ensurdecedor de paredões, repleto de ritmos de arrocha e funk, substitui o forró, que é a verdadeira essência das festividades juninas. As letras, muitas vezes recheadas de duplo sentido, como “5 horas da manhã, batendo na minha porta, atrapalhando a minha f…”, apenas acrescentam à degradação cultural e à banalização de um momento que deveria ser de celebração.

Qual será o futuro das nossas crianças se continuarmos nesse caminho? Se não resgatarmos e valorizarmos nossas tradições, corremos o risco de perdermos completamente a conexão com nossas raízes. Precisamos reintroduzir o forró, as danças e as músicas que celebram a nossa cultura. É fundamental que as novas gerações cresçam em um ambiente que respeite e preserve a riqueza das nossas festividades.

A luta pela revitalização das tradições juninas deve ser uma prioridade, não apenas para honrar o nosso passado, mas também para garantir que as futuras gerações tenham a oportunidade de experimentar a magia do São João em sua plenitude. É preciso essa festa seja resgatada, devolvendo-lhe a alegria, a autenticidade e o calor humano que sempre a caracterizaram.

                

                                                                      Por Celso Mathias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mantenha-se informado