Au revoir Bernard!

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Bernard e Zenaide no River Side

 

 

Tempos depois, num festival de comida francesa no River Side, ali na Estrada do Coco, conheci o tal francês que fundara o Chez Bernard. Que cara simples! Legal, um baiano mesmo desses que a gente encontra num botequim e engata um papo inteligente. E o Bernard era inteligente e gracioso, mordaz, irônico. Conversa para rolar a noite.

REEDIÇÃO DE TEXTO PUBLICADO EM 13/02/2009

 

 

O ano eu lembro bem, era 1968. Havia na Rua Senador Costa Pinto uma boate chamada Ballroom. Ali Caetano e Gil deram uma canja de despedida e/ou tomaram um porre despedindo-se da Bahia para iniciar o seu autoexílio em Londres. Eu morava em frete, no número 109, hoje parte da área de à época, um pequeno posto de gasolina ainda hoje existente. Meu lar era a pensão de D. Margarida, mãe de Raimunda, tia de Agnelo, de Dadá, de Creusa…com exceção de D. Margarida, todos estão aí, ainda belos, saudáveis e bem-sucedidos.

Na Gamboa, havia já há alguns anos um restaurante de nome pomposo “Chez Bernard”. O que significaria isso? Será que um dia eu ainda poria os pés naquela casa. E os carros estacionados à frente? Nossa! Sequer me lembro dos importados. Lembro muito dos Dodges, dos Landaus e dos Aero Willis. Será que algum dia entraria em um daqueles? Fecha o pano.

Saí da Bahia em 1972 e fiquei fora por exatos 30 anos. Em 2002 quando voltei, já havia realizados muitos sonhos e agora pisava o tapete vermelho do Chez Bernard. Conversando com os garçons fiquei conhecendo um pouco da história da casa e do seu fundador, Bernard Goethals.

Tempos depois, num festival de comida francesa no River Side, ali na Estrada do Coco, conheci o tal

Hotel River Side, hoje transformado em um Centro Para tratamento de COVID

francês que fundara o Chez Bernard. Que cara simples! Legal, um baiano mesmo desses que a gente encontra num botequim e engata um papo

 

inteligente. E o Bernard era inteligente e gracioso, mordaz, irônico. Era conversa para rolar a noite toda.

 

Confessei-lhe que havia morado em Paris num estúdio da Rua Pierre Charron onde estão ícones como o Chateau Frontenac o Pershinghall, e que sou fã de Piaf. Ele, não era tanto e diz que quando criança vivera nos arredores da Charron. Emenda perguntando a minha naturalidade. Respondo, Euclides da Cunha. “Olha, faz tanto tempo que não volto a Paris e já fui tantas vezes a Euclides da Cunha, que é provável que eu conheça mais a sua cidade do que você e, você mais a minha do que eu”.

Como? Indago meio espantado. “Celso, minha mulher, Zenaide teve tios queridos que casaram por lá e lá viveram até a morte. Divina Maia, por exemplo, era tia de minha mulher Zenaide. ” Gelei! Divina Maia Siqueira, mulher de Dominguinhos, mãe de Hidelbrando, nora da professora Erotides e cunhada do legendário Ioiô da professora. Divina fora minha madrinha e uma espécie de mãe adotiva mesmo quando a minha mãe, que morreu muito jovem, ainda era viva. “Dindinha” como eu a chamava, convidava-me para o almoço uma vez por semana. No quintal da casa que ainda está lá intacta, havia uma pequena horta onde se plantavam, tomate, alface, coentro, couve, cenoura e outros legumes que a cidade ainda não adicionara ao seu cardápio. Foi “Dindinha quem me ensinou as noções básicas da boa alimentação.

 

E aí foram tantas histórias de Paris e de Euclides da Cunha… que mal vimos o tempo passar. No final da noite, a pedidos, ensaiamos passos de dança ao som de um flautista belga que entoava La vie en rose.

 

Hoje pela manhã, minha amiga Lúcia Abreu que conhece essa história, enviou-me um e-mail perguntando se eu já tinha notícia da morte do Bernard e do Ângelo Salton, outro ídolo que se foi no mesmo barco do Bernard. Pensei então em homenagear os dois traçando estas mal traçadas linhas e imaginado que nesse momento lá no céu, estão todos se deliciando com o impagável Filet Bernaise ou o Steak au Poivre do Bernard e degustando o espumante Evidence, sabrado e servido pelo Ângelo ao som de La vie en rose.

 

Como disse o Giácomo Mancini em sua crônica 04/05/2006, Longa (eterna) vida ao Chef.

 

Au revoir Bernard!

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